quarta-feira, 5 de outubro de 2011

"Meu filho vai ter nome de santo"

No dia a dia, ao longo de toda minha vida ouvi várias pessoas, convictas de sua posição proselitista, afirmarem que somente uma educação familiar baseada na religião seria ideal para formar homens e mulheres "de bem". Para esse grupo, ainda maioria mas cada vez menor segundo dados do IBGE, toda a ética e moral se concentram em dogmas e costumes milenares os mais diversos. No Brasil, podemos nos referir diretamente ao Cristianismo como a religião de maior dimensão, sem dúvida, a hegemônica.

Ou seja, para ser bom, a pessoa tem de ser católico, ou protestante, mas para não ficar nesse duelo de facções, vamos resumir: o cristão é o parâmetro de idoneidade. Pessoa que não acredita em Deus, que não tem fé, no mínimo, é desconfiável, não merece credibilidade, ou tem forte inclinação para o "mal". A sociedade brasileira ainda mantém viva essa herança medieval e trata como hereges os ateus, agnósticos e adeptos de outras religiões.

Não acredito que a religião seja o padrão ideal para formar pessoas íntegras, honestas, honrosas etc. Tem uma importância, sim, entretanto relativa. Por outro lado, uma educação religiosa severa tende a gerar intolerância, preconceito, discriminação. Enfim, a ideologia religiosa é falha e somente ela não garante nada. 

O fato é que o argumento da religião como o cerne da educação ideal não se sustenta perante a realidade concreta de que existem bons e maus, tanto em circunstâncias favoráveis ou desfavoráveis a isto ou àquilo. O que tenho aprendido é que boas pessoas convivem, ou conviveram, com boas pessoas que lhe ensinaram princípios universais de igualdade e alteridade, de respeito e comunhão sem exatamente seguir uma ideologia religiosa. Para mim, como diria Drummond, "amar se aprende amando".

Você é religioso e não concorda comigo? Tudo bem, respeito. Como disse, a religião é importante, porque ensina limites, disciplina, só não dá conta de tudo, pois se desse ninguém roubaria, ninguém mentiria, não se faria nenhum "mal". Haja vista que o maior ensinamento cristão é justamente o mais contrariado. Nota-se logo o tamanho da ilusão, do quanto paradoxal é o ser humano. Agora me digam a resolução desta equação com tantas variáveis? As pessoas mudam, os dogmas, não.

Outro fato preponderante: não existe receita para formar boas pessoas. Os pais controlam as crianças até o dia em que se tornam autônomas. Por escolha própria elas decidirão seguir o que aprenderam ou construirão algo novo. Inclua-se aí coisas boas e coisas ruins. 

Não direi o que é ser bom ou mau. Estes conceitos diferem a partir do olhar de cada um. Nem quero "demonizar" a religião. Já que ela ajuda a definir parâmetros. Mas isso não retira o mérito de quem educa seus filhos sem princípios religiosos, afinal também se ensina ética, moral e bons costumes além dos muros ideológicos dos dogmas. Eis o ponto chave dessa discussão. Com ou sem religião é possível lograr êxito ou fracassar na educação de uma criança. Faz-se o que está ao alcance, na maioria das vezes.

"No fim, a decisão é sua, meu super-heroi". Penso nisso toda vez que tento ensinar algo ao meu sobrinho... Porque só pudemos escolher seu nome.


José Minervino Neto

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Destacamos com este texto nosso olhar para outras questões inquietantes como religião, ateísmo, agnosticismo etc., que permeiam nosso cotidiano e aproveitamos o ensejo para ratificar nosso posicionamento em favor da liberdade de expressão. Ou seja, ficou 10inquieto com nossas provocações, pronuncie-se. Seu espaço é garantido, assim como nossa tréplica.

Preciso explicar de onde vem o título desta postagem? Não, né?

Um comentário:

Igoarias disse...

Ótimo texto e também muito corajoso parceiro, não tiro nenhum palavra dita por ti, sem mais delonga, concordo com tudo que está escrito, parabéns.