sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Demolição X Preservação

Todas essas obras são importantes para a cidade. Mesmo não agradando a alguns, é certo que todas mudarão o espaço urbano e vão gerar emprego e renda para União dos Palmares. (JMarcelo Fotos)


Fotos: JMarcelo Fotos

Ok, a Vila Magdala era um patrimônio privado e o proprietário poderia, como fez, destinar ao imóvel qualquer fim. Contudo, não deixa de ser um fato lastimável tendo em vista seu valor arquitetônico e o ar colonial que exalava ao espaço da avenida. Eu me lembrarei sempre do local, da fachada roxa com detalhes amarelos, da varanda onde ingeri altas doses de composto etílico de cevada e, especialmente, de certa festa de aniversário há três anos, num junho chuvoso. Pois é, boas lembranças.


Mesmo não gostando da notícia, mesmo sabendo que a demolição do prédio foi um atentado bem sucedido à história de União dos Palmares, resigno-me, porém sempre à revelia e sob protesto.


No caso da Vila, nada pode ser mais feito, situação irreversível. Mas por pouco não se perderia totalmente a Casa de Maria Mariá, que será reaberta no dia 11 de outubro, segundo o site O Relâmpago, e a Casa do Poeta Jorge de Lima. Se essa malemolência continuar (e vai mesmo), outros prédios serão apenas memória fotográfica, como o do (já antigo) Colégio Cenecista Santa Maria Madalena, algumas casas que mantêm a fachada clássica preservada, o Centro de Formação de Professores Rocha Cavalcanti, por sinal o mais belo da cidade, e outros.

Marcelo está corretíssimo quando assinala a importância econômica de casos como o da Vila Magdala e outros citados em seu blog. “Para o alto e avante!”, diz o ditado capitalista.  A receita de União dos Palmares agradece. Só espero que isso seja revertido em ganhos reais para a população palmarina, sobretudo, dos bairros periféricos cujos problemas nem é preciso relatar aqui (por enquanto).

Apenas emprego de mão-de-obra barata num supermercado, ou mercadinho, não muda a vida de ninguém nem uma cidade. E a história não tem preço.



José Minervino Neto

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Leia mais sobre a Vila Magdala no blog A Terra da Liberdade.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Político ficha suja, eleitor de cara limpa!



Vemos todos os dias na TV, no rádio, na internet falar-se de política, geralmente quando se toca nesse assunto é sobre roubalheiras, mensalões e corrupção em geral.  Todo mundo está desanimado com a política e, principalmente, com os políticos brasileiros. Desde criança a gente escuta nossos pais falando que tal político roubou aquilo, que aquele outro sonegou isso, nunca se ouve falar que os mesmos foram presos pelo que fizeram para com a sociedade, se aconteceu foi um caso isolado, o “cara” ficou pouquíssimo tempo detido e com regalias que nenhum outro preso teria direito.

Hoje em dia para se ganhar dinheiro há duas opções, abrir uma igreja ou virar ladrão, perdão, a última opção seria virar político, mas foi força do hábito. Em tempo de campanha eleitoral, sempre se vê candidatos às portas prometendo tudo, de uma chapa de dentes até casas, porém depois que a eleição passa e eles conseguem o que mais querem, o voto, entram em seus carros do ano, com vidro fumê e blindados, e vão embora por mais quatro anos, que é quando voltam com uma cara de jumento sem mãe para de novo pedir sua ajuda.

Olhe bem o que disse antes, pois eles voltarão com certeza mais uma vez para prometer-lhe e não cumprir, no entanto o que enfatizo é que você faça por onde eles nunca mais voltem, que eles nem se elejam.

Demoramos a perceber que nós estávamos e estamos sendo ainda surrupiados por esses crápulas bem vestidos e de mentes subordinadas por uma única coisa e com um único propósito: o dinheiro fácil.

A palavra da vez é: CHEGA. Chega de tanta injustiça com o nosso povo, chega de tanta roubalheira virando notícia de primeira mão na TV. A era dos engravatados tem de chegar ao fim e dar espaço a nossa, dos “pés descalços”, porque esperamos muito tempo para ver o que estava à nossa frente.


Igor Monteiro

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Um poema perturbador



No caminho, com Maiakóvski (fragmento)

[...]
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
[...]

(Eduardo Alves da Costa, poeta fluminense)


Conheci este exato fragmento poético nas rodas de amigos e simpatizantes no meu tempo saudoso de aluno avoado de História/UFAL, nos corredores do CHLA (atual ICHCA). Pensei, como todo mundo numa época de pouca Internet, que fosse de autoria do poeta russo. Mas como podem ver, não é. Explicações detalhadas aqui.

Relembrando o poema, refleti um pouco sobre a palavra povo. Nas mais variadas acepções permanece o sentido de unidade coletiva. Esse nós virtual, imaginado, que materialmente não existe, ou pelo menos não faz jus ao dicionário.

Digo isso porque o eu (unidade, a parte) deveria se sentir parte do nós (conjunto, o todo), já que é povo. Onde está nossa empatia de ver o outro? Além de mudos, cegos?

A voz do povo é uma voz silenciada no Brasil, em Alagoas, na Zona da Mata, aqui. Sem poder gritar, o povo é facilmente enganado, roubado, mortificado. Não são poucas as pessoas que vendem seu voto, que se entregam por favores, "viram a casaca", ou seja, cedem à pressão daqueles que não são povo (ou povão, como queiram); causando dissensão no conjunto. O todo se quebra, vira pó, e bem sabemos o destino do pó após uma faxina.

Este poema me perturba, e muito, toda vez que o releio. Mas pelo menos me deixa mais lúcido. 

José Minervino Neto

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Para ler a íntegra do poema, clique aqui.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

As intermitências da obra


A alma é divina e a obra é imperfeita. (Fernando Pessoa)

Foto: Franco Maciel
União dos Palmares está em obras, parecendo um canteiro enorme. E pergunto: “Vai ter jogo da Copa do Mundo de 2014 aqui também?” Não?! Mas bem que poderia, não era? Pra todo lado: buracos, barricadas, máquinas, trabalhadores e fluxo conturbado de pessoas e automóveis.

“Quebraram tudo, fizeram esse buraco aqui e deixaram pra lá?”, é o que penso toda vez que presencio esses cenários. Ou então, “por que não concluem esse troço de uma vez?”. Não pode ir por aqui, não pode ir por ali, dá-se um longo rodeio até chegar ao lugar mais próximo de onde se quereria chegar. Putz! #Fail, como se diz no Twitter.

Deve-se ressaltar de antemão que são obras necessárias muitas vezes, as públicas especialmente, para pôr um pouco de ordem nesse caos urbano palmarino. Contudo, não se pode deixar passar incólumes os responsáveis por tantos transtornos.

Não bastasse a quantidade de buracos em certas vias da cidade e a total inexistência de calçamento em outras, a população além de tomar cuidado para não cair nessas “crateras”, bem como desviar do material de construção de obras privadas espalhado no passeio público (calçada pra quem não foi à autoescola ainda), é forçada a se adequar à situação e dividir espaço com condutores de veículos mal-educados, beligerantes, “iNgnorantes” etc., etc.

Foto: Franco Maciel
As desculpas, ou melhor, os clichês persistem. “Ah, a chuva atrapalhou!”, brada o poder público. “Onde vou colocar a areia?”, berra o comerciante. E eu respondo solenemente: “Não sei”. Mas tem quem saiba, porque em outros lugares se faz o mesmo tipo de coisa com menos impacto na rotina da população.

Diante de tanta intermitência, tanta procrastinação e ingerência o diagnóstico é simples: “Tá tudo errado (mesmo quando o objetivo é correto)”. E a solução também não é segredo pra ninguém. O poder público dispõe de receita suficiente para concluir as obras, do contrário nem as teria iniciado. Contratar profissionais sérios e competentes, licitar sem sofreguidão e exigir das empresas vencedoras do processo licitatório o cumprimento dos prazos e um serviço de qualidade é o mínimo. Para a iniciativa privada, há casos aqui mesmo de reformas e todo tipo de obras realizadas sem a necessidade de ocupar o espaço dos pedestres e a criação de insalubridades. Dinheiro sei que também têm, do contrário, ops, já usei essa frase.

Passou da hora de União dos Palmares deixar de ser uma cidade grande (comparada a Branquinha, com todo respeito aos meus conterrâneos) e se tornar uma grande cidade. Aspas nessa oração, que decerto não é uma acepção minha, mas de todo aquele que vive nessa terra inculta e bela (com licença, Fernando Pessoa, novamente) e sabe de suas potencialidades.
  
Ah, sim! A respeito do título leiam As intermitências da obra, de José Saramago, a quem também peço licença.


José Minervino Neto

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Imagens retiradas do blog A Terra da Liberdade, de Franco Maciel.