domingo, 9 de setembro de 2012

UNIÃO: ORGULHO E VERGONHA NO ÚLTIMO MEIO SÉCULO.

Nos últimos 50 anos passaram pela prefeitura de União dos Palmares 15 prefeitos. Meio século de gestores de todas as ideologias e partidos que deixaram um saldo minguado de realizações. Tão minguado que, em pleno século 21, candidatos ainda usam adjetivos como “mudança” e “avanço” em seu marketing de campanha.
Obviamente que correligionários, puxa-sacos e apaixonados ideológicos pelas sopinhas de letras partidárias vão levantar a voz e dizer que fulano fez a praça tal, beltrano calçou um bairro, e até mesmo dizendo que minha visão é pessimista. Mas vamos por os últimos 50 anos de administração de União na mesa e verificar: O que realmente foi feito nesse meio século?
Há meio século as precárias ambulâncias carregam doentes para a capital, seja para curar um câncer ou uma infecção intestinal.
Há meio século União convive com doenças como esquistossomose, verminoses e tuberculose. Mazelas do século 17, quando a cidade foi fundada. Ou seja, nem nas doenças a cidade se “modernizou”.
Há meio século a Santa Fé vive num estado de miséria vergonhoso, inaceitável e constrangedor para qualquer cidadão que tenha direito às três refeições diárias. Gente tratada feito bicho, cuja única diferença de um animal está no fato de que portam título de eleitor para sustentar a elite. Nada mais.
Há meio século os grupos culturais sobrevivem sem apoio, mendigando um troco para dar uma contribuição crucial com o crescimento social do município, mas que os gestores ignoram para não modificar sua política do pouco pão e circo de péssima qualidade.
Há meio século estudantes se espremem em ônibus para vir estudar em Maceió, com a agravante que nesta última década precisam pagar por isso.
Há meio século os palmarinos vivem ou do trabalho no setor sucroalcooleiro ou do pequeno comércio, que apenas inchou, fazendo milhares de pais e mães de família ratearem meia dúzia de fregueses sem perspectiva de crescimento. 
Há meio século que os palmarinos são “empregados” por um comércio desumano, que rasga as leis trabalhistas, transformando o trabalhador numa máquina automatizada, sem folgas ou tempo para qualificação. 
Há meio séculos pré-adolescentes vivem de “carregos” na feira-livre como forma de sobreviver dignamente, perdendo a infância e juventude, e o pior, deixando a escola em segundo plano.
Há meio século o Roberto Correia de Araújo/Vaquejada incham, se transformando, sob os olhos dos gestores, num verdadeiro mostro urbano tomado pela miséria e pela violência.

Essas respostas são minhas, mas podem ser colocadas na boca de qualquer morador que testemunhou os 50 anos da cidade. Acho difícil discordar que mudança e avanço não estão no dicionário dos gestores de União há décadas. Por isso acho constrangedor, irônico, um verdadeiro acinte, seja qual for o grupo político falar em “mudança”, “avanço” ou qualquer outro adjetivo hipócrita do tipo. 
União não cresceu. Inchou. E “progredimos” sim, mas no pior sentido da palavra, pois já temos drogas, fome e prostituição. Nossa política nojenta de surrupiar os cofres do município inconsequente e desumanamente conseguiu “importar” o que há de pior nos grandes centros urbanos.
Chega a ser chocante constatarmos que esse cenário pertence a um município que recebeu do governo federal, via transferência de recursos, R$ 262 milhões, arredondando-se para menos, somente nos últimos 5 anos. (Dados do Portal Transparência)
União é, e tenho orgulho disso, a terra de Jorge de Lima, Maria Mariá e Zumbi. Mas a luta de Zumbi na Serra da Barriga, um marco nacional, precisa fazer parte do nosso passado, e não permanecer se repetindo no presente das periferias miseráveis de União. A Nega Fulô precisa se transformar de vez em poesia, e não permanecer nas cozinhas nada literárias da atual elite que ainda não se deu conta da Lei Áurea. E para isso, é preciso termos pelo menos, um naco da inteligência e caráter que teve nossa imortal Maria Mariá.
União precisa ser, também, a terra da Josefa, do Cícero, do Antonio, do João, do Marcelo, do Sebastião, da Madalena e de tantos outros que estão escrevendo o futuro de uma terra que ainda não conheceu, de fato, a liberdade.


Autor: Gilson Monteiro.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Classe média, alta sordidez

A classe média é o sustentáculo dos dominantes, senão a mesma coisa. Marx me perdoe se estiver fazendo esta leitura de modo equivocado. De qualquer modo, são os pequeno-burgueses quem ocupam determinadas posições na sociedade que servem de vanguarda, braço-direito etc. aos que estão no topo da pirâmide social. 

São eles quem se valem das famosas carteiradas: "Você pensa que está falando com quem? Eu sou filho de Fulano De Tal!". Ou, em estágio mais avançado, quando já facilmente reconhecidos, pintam, bordam, agridem, espancam, atiram e tudo fica por isso mesmo.

São aqueles que desrespeitam o espaço público e tudo que é público, ou mesmo os tornam patrimônios privados. Que usam as vias urbanas para exibir suas performances em motocicletas e carros envenenados, causadores de insônia.

Eles ainda têm a indecência de xingar* quem se beneficia de políticas públicas, como as cotas e o Bolsa Família, porque acreditam que a universidade lhes pertence e porque jamais passaram fome ou qualquer necessidade. Aludem à meritocracia no caso das cotas, dizem que o Bolsa cria "vagabundos". Mas se negam a enxergar a realidade de um povo que jamais teve acesso pleno à democracia, que literalmente morre na fila do SUS, nosso sucateado e fraudado sistema de saúde.

Essa classe vil de pessoas movidas a desumanidades está em todos os lugares, em todas as cidades e nós tanto as conhecemos quanto reconhecemos.

Pausa. A razão desta postagem é apenas apresentar o vídeo abaixo da professora e filósofa Marilena Chauí, muito conhecida no meio acadêmico pelos livros Convite à Filosofia e O que é filosofia, que, em palestra na USP, analisou a classe média paulista. Percebam como todo o meu furor, além de justificável, não é nada perto dos atos de insanidade desse seleto grupo social.

Aos reacionários, peço: contra-argumentem. Se puderem.


"Que país é esse?" - Renato Russo
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*Xingar aqui não se refere a quem, com argumentos, se posiciona contra tais políticas públicas.