quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Notas #2

Cotas

O sistema de cotas nas universidades/institutos federais é uma das bandeiras defendidas por este blogueiro preguiçoso, por acreditar que o nosso país tem uma dívida histórica com aqueles que ao longo de tantos anos foram marginalizados, seja pela cor, etnia ou condição social. A presidenta Dilma Rousseff sancionou hoje a lei que reserva 50% da vagas em instituições federais para candidatos oriundos de escola pública, sendo a metade para negros, índios e pardos. Permaneceu o critério da renda per capita de um salário mínimo e meio e, como já esperávamos, foi vetado o artigo 2º, que, em caso de aprovação, anularia o propósito do Enem. A implantação do sistema em todas as esferas federais ocorrerá no prazo de até 4 anos. 

Detalhe: durante a votação no Senado, apenas um senador se posicionou contra a lei (ver aqui), Aloysio Nunes Ferreira, do PSDB-SP...


PSDB que...

...colocou Alagoas em 1° lugar no ranking nacional de violência, e em último no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). O governador Teotonio Vilela Filho (PSDB*) mais do que já demonstrou que seu único empenho é apenas em construir entulhos. Estamos praticamente às portas de setembro e milhares de alunos da rede estadual ainda não tiveram um dia de aula no ano letivo, devido às intermináveis reformas das escolas. Resultado: o Ministério Público processou o Estado. Tomara que surta efeito, assim como o Programa Brasil Mais Seguro ao menos diminua a criminalidade no estado. Leia o artigo do sociólogo Carlos Martins, que estuda a violência em Alagoas e que recentemente foi vítima da truculência policial, aqui para aprofundar a discussão.

...forçou a Universidade Estadual de Alagoas - UNEAL a entrar em crise neste ano, provocando a iminente greve da instituição, por descumprir TODAS as promessas firmadas por ele mesmo na presença dos representantes da comunidade acadêmica em novembro de 2011. Veja a entrevista do reitor Jairo Campos ao Bom Dia Alagoas desta segunda-feira, aqui.

Em breve, falaremos mais sobre a UNEAL.


Eleições: muita pÚlitica e pouca Política

Começou a propaganda eleitoral no rádio e na TV, para os veteranos, a campanha começa de fato. Mas o que chama atenção mesmo no interior são os comícios/caminhadas. Neste último final de semana, o senador Fernando Collor (PTB) esteve em União dos Palmares para apoiar o candidato Beto Baía (PSD). Na sua fala, segundo foi divulgado, o senador ateu-se a agredir os opositores de Baía, em especial o atual prefeito Areski de Freitas, o Kil, que também é do mesmo partido. Em nota, o gestor municipal repudiou a atitude do parlamentar. Fica registrado aí a primeira "merda federal**" no pleito palmarino, um exemplo da nossa pÚlitica.

Enquanto isso, quem faz Política sem amarras segue enfrentando os desafios e a deslealdade do poder econômico. Uma lástima. Até quando seremos escamoteados assim?

P.S. 1: Não ouvi o guia eleitoral nem fui aos comícios/caminhadas, portanto, não tenho como comentar as possíveis propostas dos candidatos.

P.S. 2: Neste blog o uso de expressões chulas está parcialmente liberado quando não houver expressão melhor para qualificar um ato. Ou seja, para expressar nossa indignação, jamais para ofender alguém. O bom humor, contudo, é totalmente livre.


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*Sou totalmente contra a política do PSDB por vários motivos: FHC, Serra, Téo, privatizações, sucateamento do serviço público, tragédia do Pinheirinho em São Paulo (janeiro de 2011), pelo desdém com a educação (em SP as escolas públicas estaduais passam por situação semelhante às nossas no tocante ao exagerado número de professores contratados) etc. etc.

**Diz-se de "merda federal" todo ato de extrema irresponsabilidade, no caso do senador, que é um representante federal, o termo se aplica perfeitamente. Concordam?

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Um coração que bate à esquerda



Gostaria de ser um Janio de Freitas quando crescer, mas tenho paixões demais.

Para quem se interessa sobre o trabalho da mídia, eis aí um exemplo do bom jornalismo tão raro e tão caro à mídia golpista (recém-nomeada de PIG - Partido da Imprensa Golpista). Só pra constar, Janio é colunista da Folha de São Paulo, um dos jornais mais conservadores do Brasil, mesmo assim destoa da diretriz de seus patrões.

As palavras de Janio me tocaram profundamente lá pelo minuto 26, quando responde à pergunta sobre sua ideologia política, pois ele vai muito além do lero-lero de azul X vermelho e de forma sucinta ele se declara a favor do povo, nas suas palavras, os "movimentos sociais em geral", posição distinguida como esquerdismo.

Apesar de eu defender o governo Lula/Dilma em muitos aspectos, bem como não aceitar tantos outros dos mesmos, não sou petista nem filiado a qualquer outro partido. Como o nobre jornalista, eu me identifico com a causa dos movimentos sociais, seja a dos trabalhadores sem salário da Usina Laginha ou do povo da tragédia do Pinheirinho em São Paulo, sinto empatia por cada pessoa que sofre opressão e me indigno constantemente. Se os causadores desses ultrajes em geral são do PSDB ou do DEM, paciência, não pedi para serem eles.

Esquerda/direita são denominações, ao meu estreito modo de ver, insuficientes e maniqueístas demais para denominar este ou aquele partido na atual conjuntura política brasileira. No entanto, se quem aposta no neoliberalismo ainda é denominado de direita e/ou centro e quem é contra de esquerda, sou de esquerda. Isto transparece claramente nos meus textos publicados neste blog, em cada retuíte/compartilhamento que faço nas redes sociais das matérias de Carta Capital (@CartaCapital), do hilário José de Abreu (ator global e petista roxo - @ZehdeAbreu), através das charges do Carlos Latuff (@CarlosLatuff), em cada provocação etc. etc. Sempre tendo o cuidado de não ofender a integridade das pessoas, mas de debater ideias e gerar dialética.

Tento ser o mais otimista possível, entusiasmo-me com políticas públicas como o sistema de cotas e fico deprimido com a situação das escolas públicas, em especial as alagoanas, e não amenizo críticas ao governo Dilma pelo tratamento dado aos professores das universidades federais. Então, como manter o otimismo sempre em alta? Somente sonhar não basta, mas preservo a esperança, porque sempre precisamos de ao menos uma faísca para acender o fogo.

É uma posição muito arriscada ser de esquerda com tantas tramóias que os donos do poder são capazes de efetuar, ou das traições mais improváves acontecerem (os palmarinos viram isso muito bem esses dias), contudo ser covarde, não se posicionar, isso sim, é vexatório. Mudar, às vezes, além de conveniente, é necessário, porém não mudar pra pior, claro. 

Manter-se coerente aos princípios no decorrer dos anos tem exigido cada dia mais e isto está ligado à condições financeiras, que no meu caso é independente de qualquer favor que não o do meus pais. O "fácil" é tentador, sempre, jamais irrecusável também.

Sobretudo, sou a favor do ser humano, acredito que não preciso explicar o que isso significa. Sobretudo, ainda estou aprendendo sobre tudo, do amor à política.

Meu coração bate à esquerda e não poderia ser diferente, não depois de ver em tão pouco tempo de vida tanta injustiça provocada pelos coronéis e doutores de direita da nossa terra, não depois de ser enganado durante anos pela Globo, Veja e cia., únicos meios de informação a que tive acesso durante anos, nem depois de começar a ler o mundo, como aconselha Paulo Freire.

E, por fim, não sigam meu exemplo, sigam o de Janio de Freitas.

sábado, 11 de agosto de 2012

50% mais felizes



Voltamos ao tema das políticas afirmativas, neste caso, novamente o sistema de cotas das universidades federais e, doravante, dos institutos (antigas escolas técnicas/cefet’s). Leia o texto do companheiro Paulo Veras, que instigou esta postagem, concebida a princípio como um comentário em seu blog.

Pela história brasileira e seus desdobramentos malignos na vida de quem ocupa hoje posições inferiores na pirâmide social, apoio plenamente o sistema de cotas raciais e igualmente as sociais. De acordo com o projeto de lei 180/2008 a ser sancionado (creio que não na íntegra) pela presidenta Dilma Rousseff, outros requisitos foram inseridos ao sistema de cotas: para ter direito às reservas o candidato tem de comprovar ter cursado em escola pública integralmente o ensino médio e não ultrapassar a renda per capita de 1,5 salário mínimo.

Alunos de escolas privadas serão prejudicados? Ora, se podem pagar as caríssimas mensalidades para estudar nelas, também poderão arcar com as despesas de uma faculdade privada. Portanto, como saem perdendo aqueles que historicamente utilizaram a universidade pública como nicho privado? 50% das vagas ainda “serão” deles.

Agora, com a mescla dos tantos fatores, há uma ampliação da justiça social que o Governo Federal pretende realizar. O valor per capita reflete muito bem aquilo que vejo diariamente: famílias inteiras sobrevivendo com dois salários mínimos ou menos que isso. Negro rico? Isso é tão difícil de encontrar que nem nas colunas sociais aparecem, exceto as celebridades.

Sim, é uma injustiça que alguém fique de fora por ultrapassar minimamente o 1,5 salário per capita, todavia qual comissão avaliadora se prestaria a tão ignominiosa “retidão”? (Muitas, mas sejamos otimistas).

O sistema tem brechas, que com o mínimo de decência devem ser corrigidas com o tempo. A demanda será enorme, aumentará a responsabilidade das instituições, os gastos e, quiçá, exigirá mais tempo hábil para desenrolar todo o processo seletivo. Nenhuma missão impossível, contudo.

O artigo 2° é um verdadeiro samba do crioulo doido. Se aprovado, será um retrocesso para o Enem, que antes não servia para exatamente nada, tanto que nunca o fiz e muitos do meu tempo também. O vestibular/Enem não deixam de ser cruéis, mas seguir o modelo americano é algo inviável, geraria um personalismo pior do que o há na terra do Mr. Sam (que não é meu tio!).

A questão da escola pública deficitária sobressai-se a tudo isso. Sem um ensino fundamental bem fundamentado (com a licença da redundância) as cotas sejam de qual tipo for jamais atingirão seu objetivo. Medidas reparativas não dirimem a necessidade urgente de resolver os problemas da educação, que vão muito além de salários melhores para os professores.

As cotas, como bem colocou o Paulo, são temporárias, do contrário perderiam legitimidade. Já dizer que as universidades terão déficit qualitativo, como andei lendo e como argumentam alguns pequeno-burgueses, é de uma vileza sem tamanho. É preconceito latente, não vale a pena nem discutir com tais “cidadões”.

O Estado brasileiro está devolvendo as universidades e os institutos federais ao povo pé-no-chão e desdentado que hoje se beneficia de outras políticas públicas, como o Bolsa Família e o Brasil Sorridente (Tcham!). Não está com isso minando o privilégio nem a igualdade, esta que nunca passou do papel, pelo contrário tenta equalizar as coisas.

Nossos meninos e meninas certamente se encherão de esperança com mais esta boa nova. E ficarão 50% mais felizes.


quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Vereadores e vereáveis invariáveis

Espanta-me a cada pleito eleitoral municipal a quantidade de pessoas que se dispõem à sociedade para ocupar um cargo público, mais especificamente o de vereador. Ocupação de prestígio social e de alta responsabilidade para com a coisa pública.

Pelo número sempre crescente de aspirantes à vereança, deduz-se que tal prestígio é um objetivo muito perseguido e almejado. Afinal, seu nome será lembrado pelo locutor oficial do município em eventos públicos, receberá um bom salário e outras benesses que 99% da população jamais terá acesso. Toda essa mordomia não é gratuita em face das obrigações (tão escamoteadas) que um vereador possui. 

Por isso, espanta-me um pleito com tantas pessoas aptas a gozarem dos confortos, mas que não têm qualificação nenhuma para exercer a função de legislador e fiscalizador da gestão municipal, ou seja, de acompanhar com afinco os mandos e desmandos do poder executivo.

Feitas as convenções partidárias, os nomes de alguns vereáveis são de causar riso e mais que isso, desconfiança. A começar pelos analfabetos e semianalfabetos que foram reprovados ou fugiram da prova de proficiência em leitura e escrita realizada pela Justiça Eleitoral; aqueles que se afastam do serviço público não para ampliar sua contribuição à sociedade, mas para ficar pouco mais de 3 meses em "berço esplêndido", causam desconfiança igualmente aqueles que só querem "aparecer". 

Esses e aqueles outros tipos não resenhados aqui, todos sem perfil algum para enfrentar os manejos do legislar e fiscalizar, cujos históricos  não demonstram o mínimo de compromisso com a sociedade, nem sequer possuem habilidades e conhecimento para representá-la.

Ah, não nos esqueçamos dos vereadores eleitos que em 4 anos não se ocuparam de suas demandas satisfatoriamente, nem daqueles que há décadas esquentam as poltronas a cada sessão da câmara, os "vereadores profissionais", que fazem da função pública meio de vida.

Todos esses tipos não merecem um voto sequer, que dirá falar e agir em nome dos anseios da população. Na verdade, não estão lá para isso nem os aspirantes ineptos estarão, porque esses aí que estão atravancando o caminho do povo sem dar passagem (Quintana me acuda!) estão lá em causa própria, fazendo do Estado uma extensão de seu quintal familiar (agora é com você, Sergio Buarque de Hollanda!).

Vereadores e vereáveis repetem os tipos que a sociedade não precisa, pois requer-se agentes públicos que não se eximem dos seus atributos, que não seguem cartilhas nem canalizam forças apenas para o seu nicho eleitoreiro.

Legislar e fiscalizar não são tarefas banais. Pense nisso, (e)leitor.

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Observação: Neste ano (não lembro se em 2010 foi assim) a Justiça Eleitoral determinou que haja uma porcentagem mínima de candidatas na composição das chapas. Isto fez com que esposas, filhas, primas e correligionárias se candidatassem a vereadoras, porém, como "laranjas", já que não farão campanha, não pedirão votos para si etc.

Um recado para as meninas: não esqueçam de fazer a prestação de contas da "candidatura".

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Já é madrugada...

Quase um mês de campanha eleitoral e os candidatos ainda se apresentam timidamente. Segundo os políticos veteranos, julho é um mês "frio" mesmo. 

Porém, as ruas já estão tomadas de propaganda dos mais diversos tipos, de paródias musicais (com rimas ridículas, a propósito), alardeadas às alturas, a toda sorte de adesivos, "santinhos", propaganda via redes sociais e performances cover de Raul Seixas e Roberto Carlos.

Mas propostas que é bom, nada!

Caminhadas e mais caminhadas, só, das majoritárias.

"Segundo uma fonte", como diria aquele jornalista sem palavra, a oposição tem usado este "silêncio" como estratégia para dar "gás" na reta final.

Dos candidatos a vereadores poucos demonstram perfil para o cargo. Quem é jovem aposta na juventude, quem é veterano na tradição e know-how etc

São de uma pobreza sem tamanho. Pobreza no sentido conotativo, claro. E quem perde e continua mais pobre (agora no sentido denotativo) é o povo, cada vez mais vitimado pela ingerência histórica dos seus governantes e pela falta de perspectivas.

O que é incrível é que num momento tão forte da Internet nenhum candidato palmarino ocupou de fato este espaço, nenhum se colocou à disposição de seus prováveis eleitores mais "antenados". Mais uma prova do quanto as coisas continuam iguais e inertes.

Como diria Chico Buarque, em música tema com título homônimo do filme Joana Francesa (gravado em União dos Palmares) na cena clássica do cinema nacional de Cacá Diegues:

Já é madrugada
Acorda, acorda, acorda, acorda, acorda!