Eu, do meu lado, não lembro de aulas sobre o
marxismo, apesar de no curso de Psicologia termos a disciplina de sociologia.
Mas lembro que esse nome sempre me foi familiar, e com todos os incômodos e
ideologias, me senti impelida a estudá-lo por conta própria. Assim, preciso
discordar do que foi escrito sobre Marx, e aproveito para driblar o constante
corromper de minha vaidade para expor o que penso tendo como parâmetro o que
foi lido.
O primeiro ponto a ser discutido é que a alienação
não é uma ilusão admitida pelo sujeito. Não precisamos ir a Marx para entender
que isso soa como contradição, pois etimologicamente, a palavra alienação
significa estar marginalizado, sem consciência. Isso quer dizer que quando
estamos alienados, não temos nenhuma noção dessa condição, pois essa é sua
principal característica: o alheamento. Para Karl Marx, o trabalhador, de fato,
é quem produz a riqueza da sociedade, com a diferença que ele não só não tem
acesso a mesma, como não tem consciência desse inacesso. O trabalhador se
vende, ele não vende um produto, como no caso de um pequeno produtor rural, ele
vende sua força de trabalho, e o que produz com isso não tem relação direta com
o que recebe. Se há conformismo perante tal injustiça, esse é deliberado pelo
sistema e não por uma decisão do trabalhador. Marx, por sua vez, não era um
profeta que teve a visão além do alcance e resolveu sozinho, mobilizar os
alienados. Marx viu a alienação, e viu que ela poderia ser rompida através do
movimento inverso: quanto mais se aliena, mais se pressiona e força o
trabalhador a enxergar sua própria condição e se rebelar. Os rebeldes já
existiam quando Marx os convocou a união.
O segundo ponto é sobre o consumismo. Concordo
sobre estarmos num momento extremamente consumista, não só de bens materiais
como de tudo o que estiver ao nosso alcance e que nos faça crer que somos mais
que os demais. A era do consumismo é a era do individualismo máximo. Todos são
cobrados a consumir, só é quem tem. Por outro lado, a necessidade de ser
através do ter que nos individualiza, apesar de alienada, tende a ser sempre
pouco e, quanto mais se consome, mais temos a possibilidade de enxergar o vazio
de tal sistema e a perversidade que ele nos impõe ao negar a existência para
além do nosso próprio umbigo. É uma lógica cíclica, ou dialética: toda
alienação tende a se esgotar em si mesma.
O terceiro e último ponto é sobre o egoísmo. Somos
egoístas por termos uma espécie de instinto de sobrevivência que nos faz buscar
alimento e nos protegermos, mas isso não significa que somos incapazes de
dividir e compartilhar. A vida em sociedade nos exige a complacência para com o
outro, e isso é que nos leva a transcender o mero instinto. Por que será o
clamor pela humanização? Simplesmente por ela não nos ser uma condição inata. O
comunismo, nada mais é que a crença nessa possibilidade igualitária de se
relacionar. De fato, o comunismo implantado enquanto sistema econômico findou
ou está definhando, mas seria uma visão muito simplista dizer que não deu certo.
Veja a Rússia antes da Revolução Comunista de 1917, e nos anos subseqüentes. De
pobreza extrema, a desenvolvimento recorde. Claro que, até por uma lógica de
atualização, qualquer sistema precisa ser substituído e, nesse caso, acredito
que precisaríamos lapidar as experiências em busca do que Estamira (personagem
real de filme-documentário de Marco Prado, 2004) chama de ”comunismo superior”,ao
invés de descartarmos todas as experiências anteriormente vividas. A proposta
não é abdicarmos de forma radical do mundo para criarmos um outro, mas sim
assumirmos as rédeas de nossa vida e superarmos nossa condição de gado num
rebanho. É sermos mais biográficos que biológicos.
Lwdmila Constant Pacheco
Mestra em Psicologia Social
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